Ele tinha 30 e decidiu sair de casa naquela sexta-feira tediosa. Achou que estava na hora de se modernizar. Ligou para a namorada. Ela aceitou o convite.
Chegaram até uma boate (estranhamente chamada de “Curral”), mostraram a carteira de identidade, pagaram horrores para entrar e ainda foram apalpados, em busca de um calibre 38, bomba atômica ou algo do gênero.
Quando entraram, analisaram aquela selva. Gente pulando, dançando e requebrando até o chão. Uma promiscuidade sem limites!
Ele foi pro bar. A namorada encontrou umas amigas. Ele começou a beber.
Cerveja por oito reais? Mas valia a pena. Sóbrio não ia dar pra agüentar aquilo tudo.
Começou na cerveja e foi subindo, até chagar ao uísque escocês. Se esquecera o que era beber. Seu fígado acostumado com bebidas de alto grau de álcool, ficara menos tolerante com o passar dos anos.
Na sua formatura do colégio, havia tomado de tudo, estava completamente bêbado. Na formatura da faculdade, bebeu pouco, mas ficou bêbado com uma facilidade incrível. Na festa do seu primeiro casamento, bebeu uma latinha de cerveja e começou a fazer um strip-tease em cima da mesa, se lambuzando com o bolo de casamento feito pela tia doceira de Ana, sua recém esposa. O casamento acabara no dia seguinte com uma carta de Ana, dizendo que se mudara pra Itália para fugir das sátiras dos amigos.
Decidiu então tomar jeito. Parou de beber! Seguiu sua carreira como engenheiro. Chegou alto na vida e arrumou uma namorada. Patrícia era linda, com seus cabelos longos e morenos. Se sentia velho, mas a partir de hoje ia se modernizar, por isso decidiu sair. Começou a beber um pouco em casa. Sabe como é, né?! Precisava reeducar o fígado.
No bar, depois de algumas biritinhas leves, estava alegrinho. Quando chegou ao uísque, seu ponto fraco, viu tudo girar. Seus pés não acompanhavam seus pensamentos.
Começou a dançar. Já estava bêbado, mas não entendia por que diabos aquelas pessoas estavam olhando para ele daquele jeito. “Nunca viram a dança da garrafa, não?”.
Começou a achar que estava um pouco alterado quando viu aquele elefante-rosa -com-pintas-verdes piscar para ele. Quando Patrícia, que estava tomando um guaraná com as amigas, viu Robert daquele jeito... Meu Deus! “Dança da bundinha, não!”, daí é covardia.
Estava tudo acabado. Pegou as chaves do carro e foi para casa. Robert levou um soco na cara depois de pedir desculpas para o barman, chamando-o de meu amor. “Tenho cabelos compridos, mas sou muito macho, meu irmão!”.
Depois daquilo, viu que a situação ficara insustentável. Decidiu ir pra casa. “Mas onde diabos estão as chaves?!”. Patrícia levara o carro. Voltou ao bar, para se desculpar com o barman, depois daquele mal entendido horroroso. O homem aceitou as desculpas. Não por vontade própria, mas para se livrar daquele papo chato de bêbado, algo como “Mas tu é o cara, tu sabe!”.
Saiu do bar. Ia descer a escada, mas esperou o banheiro fazer a curva (tudo girava). O banheiro saiu da frente e ele começou a descer. A esta altura não sabia mais andar. Tropeçou em degraus imaginários e naqueles que existiam de fato. Chegou ao andar de baixo, beijou um lindo poste ruivo e deu tchau pro elefante rosa, que estava desapontado por não ter conquistado Robert. Pegou um táxi e mando-o rodar pela cidade, pelo menos até ele lembrar seu endereço. Chegou em casa, tirou os sapatos e se deitou num tapete fofinho.
No outro dia à noite, decidiu comer uma pizza. Patrícia se mudou para Itália.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Boate Curral
Mirabolado por
Jean Dettenborn
às
17:22
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Tratar o cachorro como presidiário realmente foi o fim.
E Robert pelo jeito não aprendeu a lição na primeira vez. ^^
Postar um comentário